Nota do Fórum Permanente de Solidariedade as Ocupações de Belo
Horizonte
“Somos todos Eliana Silva”
Na manhã de
11 de maio de 2012, a
Polícia Militar de Minas Gerais, de forma truculenta, executou uma ação de
despejo na Ocupação Eliana Silva no Barreiro em Belo Horizonte. Iniciada
em 21 de abril de 2012 e organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vila e
Favelas, a Ocupação Eliana Silva se formou como um novo foco da luta pela
moradia em Minas
Gerais. No entanto, nesta sexta-feira, dia 11 de maio, moradores
e apoiadores da ocupação testemunharam a face mais cruel e impiedosa da
prefeitura de Belo Horizonte. A mão violenta do braço forte do Estado burguês
pesou mais uma vez sobre o pobre, negro e trabalhador. Esse Estado jogou ao
frio das ruas, ao relento da marginalidade, pais, mães e filhos que buscavam o
que lhe era legítimo, o direito a moradia.
Qual seria a
maior contradição dessa ação policial tendo em posse um mandato judicial
solicitado pela Prefeitura? Um Estado que usa seu aparato orgânico para descumprir
os direitos e leis básicas humanas? Ou uma investida do poder público contra a
base social a serviço de interesses individuais particulares ou mesmo
politiqueiros? Ressaltamos aqui que a ação de reintegração de posse expedida
pela juíza Luiza Divina, da 6° Vara da Fazenda Municipal, foi emitida mesmo sem
a comprovação da posse do terreno pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte,
mostrando uma total arbitrariedade de ações e decisões.
Os que
estavam presentes durante a desocupação - integrantes do Fórum Permanente de
Solidariedade às Ocupações de BH, formado por moradores de comunidades
vizinhas, movimentos populares e sociais, coletivos autônomos e independentes,
sindicatos e centrais sindicais, entidades e organizações de esquerda -
presenciaram uma operação da policial similar à operação do Complexo do Alemão
no Rio de Janeiro.
Uma tropa de
Choque da polícia militar fortemente armada, a cavalaria e até um tanque de
guerra urbano (também conhecido como Caveirão), invadiram e despejaram friamente
famílias provocando sentimento de injustiça e indignação. Todavia não havia
tráfico, não havia armas para “resistir”. Havia fome, esperança, frio, alguns
móveis provenientes de doações, assim como roupas, trabalhadores, lonas,
crianças dormindo, mães preocupadas e um forte desejo de resgatar a dignidade
através da moradia. Todas as comunidades em volta da ocupação Eliana Silva,
assim como escolas, comércios, postos de saúde, moradores foram contra esse ato
criminoso do Estado representado pela tropa de choque da PM.
Vários
relatos indignam, mas não mais impressionam, como na desocupação da Eliana da
Silva, onde um policial rendeu uma mulher no chão, com os joelhos sobre o seu
corpo porque, demonstrava esse, uma incrível incapacidade de dialogar. Essa
mulher, professora, não tinha treinamento militar, não tinha arma, e tão pouco
uma tropa armada para começar uma guerra civil, mas tinha sim a razão do pobre,
trabalhador que parece ser o maior perigo para o Estado. Mães com crianças no
colo, pais de famílias, tentavam retornar a suas casas no terreno da ocupação e
foram cruelmente impedidas pela cavalaria da tropa de choque da polícia. Foram
recebidos com golpes das armas dos policiais ali presentes. Várias pessoas
traziam no corpo marcas do enfrentamento direto com a polícia.
Ações assim,
não são novidades no quadro nacional, ou mesmo em Belo Horizonte. Todos
recordam que, recentemente a polícia de forma truculenta invadiu a comunidade
Pinheirinho - São José dos Campos - SP cometendo barbaridades, expulsando moradores,
batendo em pais de família, quebrando casas, matando trabalhadores, maltratando
pessoas a mando do governo, respaldados pelo poder judicial. Lembramos também
dos policiais que entraram na ocupação Zilah Spósito-Helena Greco, agredindo
todos os moradores, inclusive crianças que levaram nos olhos spray de pimenta e
mães que tiveram suas casas jogadas no chão. Os enfrentamentos são constantes
em comunidades e quilombos, como Dandara, Irmã Dorothy, Camilo Torres, Arturos,
Luízes e Mangueiras entre vários outros.
O Fórum
Permanente de Solidariedade as Ocupações de BH, sempre que acionado vai ser
obsessivo, contra esse modelo de Estado, onde quem governa é uma elite
minoritária e burguesa. Esse grupo de luta e resistência junto às ocupações,
formado por militantes, ativistas, trabalhadores e estudantes, vem através
desta nota, não somente declarar
repúdio, não
somente reivindicar os direitos desses, mas afirmar o princípio que estará
sempre na briga, buscando a unidade nessa luta contra um Estado imperialista e
opressor.
Pois nossa
luta é diária e reside em cada pobre, negro, mulher, trabalhador, sem teto e
oprimido.
Belo
Horizonte, 15 de maio de 2012.
Participam
do Fórum Permanente de Solidariedade às Ocupações de Belo Horizontes:
Associação
dos Geógrafos Brasileiros/AGB-BH, Associação Metropolitana de Estudantes
Secundaristas/AMES-BH, Brigadas Populares/BPs, CSP-Conlutas, Coletivo Voz
Ativa, Comissão Pastoral da Terra/ CPT, D.A Letras UFMG - “Gestão ao Pé da
Letra”, Fórum Social Mundial-MG/FSMMG, Instituto Helena Greco de Direitos
Humanos e Cidadania/IHG, Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas/MLB,
Movimento dos Trabalhadores sem Teto/ MTST, Movimento Marxista 5 de Maio/MM5,
OCUPABH, Ocupação Dandara, Ocupação Camilo Torres, Ocupação Eliana Silva,
Ocupação Irmã Dorothy, Ocupação Zilah Spósito – Helena Greco, Partido Comunista
Brasileiro/PCB, Partido Socialismo e Liberdade/PSOL, Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificado/PSTU, União da Juventude Revolucionária/UJR, Coletivo
SobreHistória.org, SINDREDE, SINDELETRO, CSP-Conlutas, Quilombo Raça e
Classe, Movimento Mulheres em Lutas.